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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Arte no Cemitério da Consolação..."Um museu a céu aberto "



Há mais de  150 anos, no dia 15 de agosto de 1858, três pessoas pobres eram enterradas no cemitério da Consolação. Thereza de Jesus Corrêa, agregada de um major, Casimiro Munhabano, preso da Cadeia Pública de São Paulo, e Benedito, jovem escravo de um coronel, foram as primeiras pessoas sepultadas na necrópole --a primeira da cidade--, em covas simples que não existem mais. Um século e meio depois, o cemitério, com seus túmulos suntuosos onde estão enterradas pessoas ilustres, não tem mais a simplicidade daquela época.


 
O cemitério era o único da cidade há 150 anos. Antes de sua inauguração, as pessoas eram enterradas em áreas consideradas "sagradas" --como o interior de igrejas--, o que passou a ser condenado por sanitaristas, que viram neste costume a causa de doenças e de mau cheiro. Após sua construção, todos os mortos passaram a ser enterrados lá. "Pessoas de todas as condições sociais, sejam ricos, pobres ou escravos", afirma o historiador Luis Soares de Camargo, do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.
O especialista conta que a elitização do cemitério aconteceu após o final do século 19, quando foram criados outras necrópoles --como a do Brás, em 1893. "A partir do momento que outros cemitérios com quadras gratuitas começaram a surgir, as quadras do Consolação passaram a ser vendidas."
O professor Rezende, conhecido como "Doutor Cemitério", acrescenta que neste período famílias ricas passaram a construir túmulos luxuosos, com esculturas caras. "Pessoas ricas como o industrial Francisco Matarazzo começaram a mandar construir túmulos suntuosos, com obras de arte de artistas famosos", diz.
Essa tendência, aliada ao fato de que diversas pessoas ilustres estão enterradas lá --como a marquesa de Santos e o ex-presidente Washington Luiz--, fez com que o terreno do cemitério se valorizasse. Segundo o Serviço Funerário Municipal, responsável pela administração, o metro quadrado no Consolação custa R$ 3.173,78. "Para se ter uma idéia, se alguém quiser um túmulo de dois metros por cinco metros terá de pagar mais de R$ 30 mil", diz Rezende.
Camargo afirma que a falta de espaço para a ampliação do cemitério também ajuda na valorização do terreno. "Não tem mais terreno disponível nas proximidades para aumentá-lo."






Arte
Localizado em um terreno de mais de 76 mil metros quadrados na região central de São Paulo e com 8.500 jazigos, o cemitério abriga obras de artistas consagrados como Victor Brecheret, Luigi Brizzolara e Amadeo Zani. Por isso e por seu valor histórico, a necrópole foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). 
 
"É um museu a céu aberto", afirma o ex-sepultador Francivaldo Gomes, 40. Conhecido como Popó, ele atualmente trabalha na administração do cemitério e também é responsável pelas visitas monitoradas.
Durante os tours, Popó passeia pelas alamedas do cemitério e, com muita calma e falando pausadamente, indica as principais obras e os túmulos de pessoas célebres. "Esta obra chama-se 'Sepultamento', de Victor Brecheret", diz, com ares de professor, apontando a escultura do artista. "Ela foi responsável por tirar o escultor do anonimato".
Adiante, aponta para o mausoléu onde está enterrado o industrial Francisco Matarazzo. "Este imponente mausoléu é o maior da América Latina. Tem 20 metros de altura e 150 metros quadrados", afirma.
Após duas horas caminhando pelo cemitério, visitando túmulos simples --como o do ex-presidente Washington Luiz-- e suntuosos --como o do também ex-presidente Manuel Ferraz de Campos Salles--, Popó vai até uma sepultura de mármore preto. Emocionado, tira da carteira a foto de um senhor e aponta para o túmulo.
"Aqui está enterrado o homem que me ensinou o que sei sobre o cemitério", afirma. Na lápide, lê-se: Délio Freire dos Santos. Historiador e ex-administrador do cemitério, Santos era o responsável pelas visitas monitoradas até 2002, ano em que morreu.
Popó, que em 2000 foi trabalhar no cemitério como sepultador, conta que, no período em que conviveu com Santos, aprendeu o máximo que pôde. "Quando eu o via passando com um grupo de estudantes me escondia atrás de túmulos e ouvia", diz.
Quando uma dúvida surgia, ele a anotava na palma da mão para posteriormente perguntar ao historiador. "Eu perguntava muito, e ele jamais me disse não", afirma, emocionado. Além das "aulas" de Santos, Popó também aprendeu muito sobre a história do cemitério por meio de livros. "Tudo o que faz parte do meu trabalho devo ao professor e à minha vontade em saber um pouco da vida de cada um que é enterrado aqui."
Após a morte de Santos, o cemitério ficou sem um guia. Mas por pouco tempo. "Na ausência do professor, o Serviço Funerário pediu que eu desse continuidade à sua agenda", conta Popó.
Visita
Visitar o cemitério sozinho em busca dos túmulos dos personagens históricos e das obras é um trabalho árduo, pois não há placas que identifiquem a localização dos sepulcros célebres nem as obras. Na administração local há tempos já não há folhetos explicativos e indicativos. O ideal é procurar um guia historiador ou agendar uma visita monitorada com o Serviço Funerário.
Para marcar um tour, é preciso ligar para o telefone 0/xx/11 3396-3815/3833. As visitas monitoradas acontecem somente de segunda a sexta-feira, às 9h e às 14h, e duram, em média, uma hora.



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